Meu nome é Claudia Maisa Antunes Lins, sou brasileira, nascida e criada no interior da Bahia, em uma cidade banhada pelo rio São Francisco. Juazeiro está localizada em uma das áreas mais quentes do estado, no polígono das secas, uma região semi-árida. Trabalho numa universidade pública, multicampi, a Universidade do Estado da Bahia - UNEB, instituição que, dos vinte e três campi, quatorze estão localizados numa região semi-árida, uma região marcada pela pobreza, em decorrência da má distribuição de renda, com índices sociais negativos, devido ao processo de colonização interna no Brasil.
O fato de trabalhar com o componente curricular "Arte e Educação" na graduação em Pedagogia da UNEB me estimulou a fazer uma pesquisa de doutorado envolvendo esses dois campos. E é a partir da necessidade de ampliar minha compreensão sobre arte e educação e as imensas possibilidades fronteiriças que podem surgir a partir dela, de uma ecologia de saberes, sensibilidades e significados, de uma outra racionalidade, como defende Santos, que buscarei o curso Pós-colonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais - CES, da Universidade de Coimbra - Portugal. Fazer o doutoramento no CES fez a diferença no desempenho da minha criatividade na investigação.
O CES reúne uma equipa de investigadores com um elevado nível de formação, o que eleva o nível de exigência, mas que nos apoia e cria as melhores condições para darmos o melhor de nós, oferecendo assim imensas possibilidades de crescimento sensível e intelectual, tendo uma rotina muito estimulante, com seminários, encontros, aulas, congressos, simpósios, colóquios, conferências, actividades culturais e artísticas e eventos e conferências, numa frequência que mobiliza ininterruptamente a nossa capacidade de pensar, não só com a razão científica, mas com a grande razão, como diria Nietzsche, o corpo, com os corpos que lutam, e se reconhecem, porque, apesar das diferenças que trazemos, e das diferentes linguagens que falamos/pensamos, há comunicação entre as lutas, comunicação essa muito estimulada pelo CES na sua própria estrutura física e epistemológica.
O CES oferece uma estrutura acolhedora para todas as pessoas, uma estrutura que envolve tanto o físico da instituição como a alma, que são os funcionários com os quais interagimos durante a nossa estadia no CES, podemos citar a Biblioteca Norte/Sul com o zelo de Acácio Machado, Maria José Carvalho e Inês Sequeira, que fazem o possível para nos ajudar a encontrar materiais de pesquisa, livros, revistas e outras publicações. A atenção da Maria José, do Acácio e da Inês garantem conforto e tranquilidade aos nossos estudos. O ambiente da Biblioteca, talvez o mais frequentado pelos alunos, garante uma excelente estrutura para o nosso acolhimento, com computadores, cantinhos de estudo, cozinha onde podemos preparar o nosso lanche e/ou almoço, um clima quente no inverno e uma equipa que garante o nosso sucesso nas nossas pesquisas.
Durante o ano de 2014 tive meu trabalho acompanhado pelo professor Boaventura de Sousa Santos. Trabalhar diretamente com o Professor Boaventura foi uma oportunidade de expandir os meus conhecimentos de forma segura e lúcida, como orientador sempre acreditou no meu projeto, e desde o início afirmou que eu faria uma excelente tese, ajudando-me a encontrar o melhor caminho na perspetiva das Epistemologias do Sul. Nas primeiras reuniões de orientação, o professor mostrou-se curioso com a minha adaptação ao CES, perguntou-me como me sentia na disciplina de Pós-Colonialismos e Cidadania Global, mostrando interesse pelos meus resultados nos seminários, e a qualidade da comunicação com os outros professores do Programa, bem como se o meu projeto era acolhido por alguma instituição financiadora de investigação. Isto fez-me perceber que estava a lidar não só com um sociólogo reconhecido internacionalmente, mas também com um professor sensível e atento às questões que gravitam em torno da vida de um doutorando fora do seu país.
Sabendo que eu estava sem bolsa, o professor Boaventura informou aos outros coordenadores do curso sobre a minha situação, e um professor abriu a possibilidade de eu trabalhar numa proposta para uma instituição que, na época, estava com inscrições abertas para a concessão de bolsas, aceitando a proposta como produção científica para o componente curricular que ele lecionava. E assim aconteceu, eu fiz a seleção e eles consideraram-me. Resultado de um cuidado que partia do Professor Boaventura, e se estendia aos outros professores do curso, uma atitude que sinalizava como os professores do Programa Pós-Colonialismos e Cidadania Global estavam empenhados no nosso conforto para estudar e no sucesso de todos e de cada um de nós para realizarmos bem e em excelentes condições, a investigação.
Como orientador, o Professor Boaventura não ignorou a minha condição inicial de investigador, reconhecendo as minhas limitações, e até as minhas dificuldades em alinhar a minha forma de pensar com a forma de pensar académica em contexto de doutoramento, mas nunca me envergonhou; todas as críticas que o professor tinha para fazer, como orientador, eram feitas diretamente a mim, nas reuniões de orientação, nunca me expôs publicamente. Todas as críticas dirigidas ao meu projeto foram uma forma de sublinhar os desafios que tive de enfrentar, chamando a atenção para a importância de exercitar a desaprendizagem, para avançar criativamente no trabalho, sublinhando também, de forma perseverante e esperançosa, a experiência que eu trazia para os campos que envolviam a investigação que pretendia realizar.
Durante o ano de 2014, reuni-me cinco vezes com o professor Boaventura de Sousa Santos, em seu gabinete, sempre agendado por sua secretária, Lassalete Simões; apenas uma vez o encontro foi agendado pelo próprio professor, que foi em uma ocasião emergencial, devido à proximidade das férias de final de ano, e o professor precisava garantir o encontro antes do final do ano, para adiantar o trabalho de orientação, tendo em vista que, ao retornar, já estaria no limite do período de qualificação do projeto de pesquisa. Ressalto que, durante os encontros de orientação, o professor Boaventura sempre me tratou com respeito, falando em todos os sentidos, sem se colocar em posição de superioridade em relação a mim, sentando-se numa poltrona, e eu numa poltrona ao lado dele, para que pudéssemos nos ver frente a frente, sem hierarquias delimitadoras de cargos; o professor nunca tocou em nenhuma parte do meu corpo, nem nos meus joelhos, nem nos meus braços, nem nas minhas pernas, nem na minha cintura. Como amigo, que também o via, abraçava-me nas alturas em que eu precisava desse abraço amigo.
Durante o tempo em que estive no CES, observei que o Professor Boaventura nos incluía nas muitas actividades académicas e culturais do CES, tinha de facto uma atitude exigente que lhe correspondia, enquanto orientador de muitos projectos de doutoramento e pós-doutoramento e também como articulador desses vários espaços que possibilitavam encontros e intercâmbios no âmbito dos estudos e investigações realizadas no CES, Assim, mantivemos contacto uns com os outros através dos seminários do Projeto Alice, das master classes dos professores, dos eventos de lançamento de livros e também dos encontros, sempre com grande alegria por parte de todos os que tiveram a oportunidade de partilhar estes momentos colectivos.
O CES tem uma política de abertura a propostas criativas dos estudantes, incentivando a autonomia na preparação e realização de eventos científicos, como seminários e exposições, por exemplo, que passam a fazer parte do programa oficial do calendário do CES. Apresentei comunicações em colóquios e congressos organizados pelo CES, coordenei mesas redondas em eventos científicos, realizei seminários em aliança com outros espaços como o teatro e a fundação, realizei exposições e participei como ouvinte em seminários organizados por colegas de doutoramento e pós-doutoramento.
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