Assinaturas:
Bryan Vargas Reyes – Colombia
Eduardo Xavier Lemos – Brasil
Maria José Canelo – Portugal
Antoni Aguiló – España
Patricia Branco – Portugal
Lino João de Oliveira Neves – Brasil
Margarida Gomes – Portugal
José Luis Exeni Rodríguez – Bolivia
Foi recentemente publicado um capítulo de livro - "The walls spoke when no one else would. Autoethnographic notes on sexual-power gatekeeping within avant-garde academia" - acusando uma instituição anónima e um "professor-estrela" anónimo de comportamentos de abuso de poder, casualização, extractivismo académico e violência de género. Apesar da tentativa de anonimato, é evidente que as acusações são dirigidas ao Professor Boaventura de Sousa Santos e ao Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.
Tendo o CES manifestado formalmente a sua decisão de constituir uma comissão independente para investigar tal conduta, não nos compete julgar ou emitir juízos de valor sobre as acusações das várias formas de violência de género referidas no artigo. O que nos afecta e nos cabe denunciar são os "sussurros" sobre o extractivismo académico, o abuso de poder ou a precariedade do trabalho supostamente exercidos contra nós, homens e mulheres, que em diferentes fases das nossas vidas fomos assistentes de investigação de Boaventura de Sousa Santos.
Devemos ser enfáticos e contundentes ao afirmar que na nossa experiência de trabalho e colaboração com o Professor Santos nunca houve qualquer forma de expropriação ou extractivismo, nunca fomos privados da autoria, se é que tínhamos direito a ela, e nunca tivemos que escrever qualquer capítulo ou livro para que Boaventura pudesse colocar o seu nome. Ao longo dos diferentes anos de colaboração, o nosso trabalho girou em torno da preparação de revisões de literatura com extensas citações textuais, traduções ou correcções de estilo devido às diferentes línguas que dominávamos.
Nunca, nas diferentes fases das nossas vidas em que estivemos em contacto com Boaventura de Sousa Santos, nos deparámos com um autocrata que abusasse da sua notoriedade internacional para minar ou menosprezar as nossas capacidades científicas. Pelo contrário, estivemos perante alguém que valorizou a nossa opinião e os nossos critérios, dando-nos a possibilidade de discordar ou não dos seus argumentos, desde que as nossas opiniões fossem devidamente fundamentadas.
Não ignoramos que o mundo académico está corroído por más práticas e abusos de poder, onde os estudantes são o elo mais fraco da cadeia e a universidade beneficia disso de diferentes formas. A precarização existe, mas no caso específico do nosso trabalho com Boaventura, podemos afirmar que não é o caso típico de um professor de renome que usa os seus alunos para lhe roubar as ideias e encher o seu curriculum vitae com milhares de textos publicados.
Todos os seus textos, nos diferentes anos em que trabalhámos com ele, sem exceção, foram escritos por ele. Perante as alegações que existem sobre o assunto, nós, os diretamente envolvidos como vítimas do extractivismo académico, não podemos ignorar tais afirmações. Não somos, nem nunca fomos, sujeitos passivos de uma relação académica. Sempre fomos remunerados pelo nosso trabalho e o nosso nome e autoria sempre foram reconhecidos quando necessário.
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