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Daniel Nina

Boaventura de Sousa Santos acusou [virar a página e tentar esquecer]










Daniel Nina, Doutor em Filosofia em Direito e Teoria Social, Mestre em Direito Internacional e Comparado e Professor nas universidades de Porto Rico Aguadilla ou na Universidade Privada de Santa Cruz de Bolívia.


Um dos grandes intelectuais da humanidade, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, foi implicado, num artigo académico publicado em livro no início de abril de 2023, como facilitador de desvios de conduta associados ao poder e ao assédio sexual.

(San Juan, 12h00) Um dos grandes intelectuais da humanidade, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, foi implicado, num artigo académico publicado em livro no início de abril de 2023, como facilitador de desvios de conduta associados ao poder e ao assédio sexual.  No capítulo do livro supracitado, nenhum nome é mencionado.  Apenas o nome da instituição é mencionado.  Com esse fato, o mais proeminente sociólogo ainda vivo, influenciador de grandes teorias como as epistemologias do Sul, entre outras, foi silenciado, censurado e afastado de todas as posições acadêmicas de que desfrutara até aquele momento. O sociólogo foi um homem e um intelecto ligado às lutas da esquerda durante toda a sua vida.


Professor Sousa Santos, é fundador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal; Licenciou-se pela Universidade de Harvard, em Massachusetts, EUA. EUA; e professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Madison.  Seus livros, mais de 150, não têm limites na descrição.  Sua bibliografia de artigos em revistas acadêmicas revisadas por pares também não tem limites.   O que é importante notar é que ele foi o intelectual acadêmico mais ligado à revolução portuguesa de 1974, chamada de Revolução dos Cravos.  Ou seja, sempre foi um intelectual profundamente de esquerda.


Por isso, o livro publicado em 2023, Sexual Misconduct in Academia: Informing an Ethics of Care in the University, provocou uma acusação, sem nomear os envolvidos, de um grupo de pesquisadores.  A Universidade de Coimbra abriu um inquérito em abril de 2023 e, até à data, essa comissão de inquérito não foi constituída e nada foi investigado. Como parte deste artigo, escrevemos ao diretor acadêmico do centro, e ele não nos respondeu.


Por outro lado, uma mulher da América Latina, à distância, acusa-o de a ter abusado sexualmente.  A pessoa só o acusa através das redes sociais, apesar de nunca ter entrado com uma ação judicial, nem na América Latina nem em Portugal.  No entanto, trata-se de uma questão que não foi tratada como deveria ser, e apenas a sua alegação é ouvida.  O que virou notícia foi o capítulo do livro acadêmico, sua afirmação não foi tratada com a mesma disposição que surge do livro.


Seja como for, o efeito de ambas as acusações tem sido o mesmo: tornar invisível a voz, a presença e o intelecto de Boaventura de Sousa Santos.  Intelectual de esquerda, é uma voz muito problemática para a direita.  Uma acusação infundada, a falta de diligência na gestão de uma comissão de inquérito e o desinteresse pelo testemunho de uma mulher que o acusa de agressão sexual levam-nos à conclusão de que tudo isto é colateral ao grande projeto: virar a página e convidar-nos ao esquecimento.


É hora de repensar como o lawfare ocorre no mundo.  Não é possível continuar silenciando vozes, nem de homens nem de mulheres de direita ou de esquerda, através do sistema formal de justiça, ou dos mecanismos informais criados pela internet. Pense.


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